Coordenadores
Cristina Parente (ISUP - FLUP)
Raquel Rego (ICS-Ulisboa)
Sílvia Ferreira (CES-FEUC)
As sociedades contemporâneas têm-se confrontado com uma sucessão de crises globais, desde a crise financeira de 2007-8 à pandemia COVID19, que aumentaram muito o grau de incerteza em que vivemos. O aumento da pobreza e da desigualdade social, as alterações climáticas, o avanço da extrema direita e do populismo, a destruição e sofrimento causados pela guerra, aparecem como um eco da Europa de meados do século XX. Estas crises remetem para preocupações já antigas que Karl Polanyi expressou em A Grande Transformação, em 1944. Reportava-se Polanyi aos movimentos de autoproteção das sociedades perante as consequências destrutivas do capitalismo liberal, quer nas formas progressistas de intervenção do Estado e da sociedade civil, quer nos fenómenos regressivos de fascismo e autoritarismo.
Nas democracias liberais, mobilizam-se os indivíduos de forma coletiva e mais ou menos organizada, fisicamente e através das redes sociais, respondendo a necessidades ou aspirações de mais justiça social e não discriminação, ou tão só de mais qualidade de vida, com garantia de serviços de saúde, segurança e cuidados, em defesa de interesses comuns, de minorias e comunidades locais, fortalecendo laços de pertença e de solidariedade, frequentemente com uma componente de ajuda a populações vulneráveis. Nas últimas décadas do século XXI, estrutura-se e institucionaliza-se um campo social e académico genericamente descrito como situado entre o Estado e a economia mercantil e que tem, como uma das caraterísticas principais, a fluidez das suas fronteiras. Esta fluidez exprime-se bem na pluralidade de designações desse campo – economia social, economia solidária, terceiro sector, sociedade civil – e dos atores coletivos envolvidos: organizações não governamentais, organizações sem fins lucrativos, empresas sociais, empreendedores sociais, coletivos, grupos e iniciativas informais ou voluntárias.
Neste contexto de incerteza, torna-se mais importante do que nunca salientar o que é o contributo da sociologia no que diz respeito ao conhecimento sobre organizações, as práticas e os discursos que povoam este campo. As abordagens sociológicas são caraterizadas pela sua atenção aos contextos, práticas e representações, assim como às relações e interações. Questiona-se sobre os contextos de onde emergem, evoluem e sobre os quais atuam estas formas de organização coletiva e sobre como se relacionam com outras organizações e instituições do seu campo ou de outros campos, que tipo de relações sociais, económicas e políticas estabelecem e medeiam. Ao fazê-lo, estas abordagens sociológicas colocam-se, frequentemente, em contraponto com outras de cariz exclusivamente individualista, utilitarista e mercantilista que promovem o desencastramento do mercado da sociedade e o domínio da sociedade pela lógica mercantil em contexto de capitalismo neoliberal.
Neste sentido, a Secção Temática Sociedade Civil, Economias Alternativas, Voluntariado (ST SCEAV) apela a contribuições nas seguintes linhas temáticas:
A ST SCEAV faz um apelo a submissão de propostas provenientes da academia, mas também do campo profissional, cobrindo estas linhas temáticas ou outros estudos e projetos relacionados. As propostas podem ter uma base empírica ou teórica, em todo o caso devem ser formuladas de acordo com uma estrutura convencional, dando conta do debate teórico em que se inscrevem, dos objetivos que perseguem, metodologia utilizada, resultados e discussão e ainda conclusões.
A ST poderá depois selecionar a(s) melhor(es) comunicações para serem propostas para publicação na revista SOCIOLOGIA ON LINE
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