Coordenadores
Emília Araújo (UM)
Rosalina Costa (Uévora – CEPESE e CICSNova.UÉvora)
Os modos de vida, as identidades e os valores são conceitos centrais na prática sociológica politicamente influente e com implicações, tanto para a compreensão do presente, quanto na antevisão e intervenção sobre o futuro. Esta relevância aumenta ainda mais hoje em dia, em virtude das caraterísticas das sociedades e da política contemporânea marcadas pela polarização e pela propagação de singularidades e extremismos. A velocidade da mudança, o poder das narrativas e dos discursos na definição das identidades e a grande vulnerabilidade e fragilidade das previsões e da antecipação, face às condições e características dos ambientes económico, financeiro e político, conduzem a modos de vida diferenciais e desiguais, entre grupos, regiões, países e mundo, em geral. Variáveis sociológicas, como o género, a raça e etnia, a religião ou a condição perante a saúde tornam- se foco de enorme importância e geram processos de ódio, extremismo e crime em contextos diversos, incluindo instituições educativas.
Além da imperativa necessidade de questionar as definições e as fronteiras dos conceitos que esta área temática abraça, designadamente o de modos de vida e identidades, importa esclarecer e contribuir para a descrição, compreensão e explicação dos fenómenos sociais, assim como para a sua antecipação, de modo a ser possível gerar ambientes de vida mais sustentáveis e saudáveis.
Com efeito, a pertença dos indivíduos a determinadas categorias e a sua situação continuam a ser fundamentais para perceber as dinâmicas sociais e, principalmente, as divisões e as polarizações que integram e atraem para o centro, ao mesmo tempo que atiram para fora, e deixam em suspenso ou à espera. Mas, é também importante considerar os espaços e os tempos criados por uma nova série de pertenças ligadas a modos de vida móveis, em trânsito e em celeridades diferentes, que vão do vagar à urgência.
Portanto, os modos de vida, as identidades e os valores interrogam tanto as identidades e a cultura, em esferas como a do género, sexualidade e corpo; como a politica na vida tal como está estruturada nas rotinas do dia a dia, do trabalho, do lazer e do tempo livre.
Perante as circunstancias de vida do mundo atual híper tecnocientífico, globalizado e individualizado, as perguntas que levantamos nesta chamada são simples: como vivem e a que aspiram as pessoas, nos seus universos, espaços e tempos de vida, face a estes contextos polarizados? Porque vivem de determinado modo e que expetativas carregam em relação às várias dimensões da vida, designadamente a família, educação, política, trabalho e religião, mas também em relação ao lazer, à ciência e à cultura? Que conexão estabelecem entre a sua vida e os vários níveis da ação e intervenção política, do local ao global, do físico ao virtual, e que reflexividade produzem sobre essa articulação desde as posições sociais e discursivas de onde se posicionam? Que têm as variáveis “clássicas” da sociologia a dizer sobre a tipologia dessa reflexividade e que novas clivagens emergem desse diálogo? Como se relacionam as instituições e as suas temporalidades com os tempos e as temporalidades individuais? Até que ponto os modos de vida refletem o tempo longo da responsabilidade política esperada em democracia?
Estas são algumas perguntas que nos levam a assumir que analisar hoje modos de vida, valores e identidades, numa perspetiva intersecional torna-se um projeto consistente para caraterizar um sem número de práticas e de processos políticos que tomam forma nas vidas individuais e que se entrelaçam com transformações sociais profundas a respeito do uso da ciência e da tecnologia.
Neste quadro geral, a proposta para este Congresso da Associação Portuguesa de Sociologia é a de debatermos na área temática de identidades, valores e modos de vida pensando no modo como podem estes conceitos ser interligados, definidos e sobretudo tornar-se operacionais em face de novas realidades sociopolíticas, também marcadas pelas crises e ambivalências ambientais, evolução tecnológica, reflexão e debate ético-social.
Eis algumas das interrogações que selecionámos para o XII Congresso Português de Sociologia sob o lema Sociedades polarizadas? Desafios para a sociologia.
Apelamos à submissão de propostas a partir da reflexividade suscitada em contexto académico (investigação básica ou aplicada) e não académico (investigação aplicada, investigação-ação) que possibilitam a apresentação e partilha de resultados de investigação concluída ou em progresso, contribuindo, dessa forma, para a discussão das identidades, valores e modos de vida.
Independentemente do contexto de origem, os resumos serão avaliados pela clareza e relevância do tema em discussão para a área temática em apreço, nomeadamente através do enquadramento e contextualização, apresentação de objetivos, metodologia e principais resultados ou questões suscitadas.
Além das comunicações orais, aceitam-se também propostas de posters e documentos visuais vários, como curtas-metragens ou pequenos filmes centrados em projetos ou intervenções específicas.
A ST poderá depois selecionar a(s) melhor(es) comunicações para serem propostas para publicação na revista SOCIOLOGIA ON LINE.
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