Coordenadores
Helena Vilaça (FLUP e IS-UP)
António Joaquim Costa (UM e CECS)
José Pereira Coutinho (UCP e CITER)
A polarização social é o desenvolvimento de posições extremistas, hostis entre si, a par da retração das posições moderadas, decorrente de desigualdades económicas, sociais, étnicas e de diferentes cosmovisões. A referida polarização social tem sido estudada, de modo particular, nas economias desenvolvidas, mas essencialmente centrada nas questões económicas, políticas e raciais, relevando, para segundo plano, dimensões de natureza étnica e religiosa, que, por regra, são ocultadas ou analisadas segundo parâmetros do senso comum, mesmo em contextos académicos.
A modernidade radicalizada é geradora de atitudes defensivas em relação àquilo que Habermas na Teoria de Ação Comunicativa chama de “colonização do mundo da vida". Essas reações não são exclusivas dos sectores neoconservadores que, dominados por um certo romantismo social, buscam um novo modelo de racionalização: os protagonistas de (novos) movimentos religiosos ou, mais genericamente, de novos movimentos sociais como os de anti crescimento económico, antiglobalização e centramento no self partilham uma mesma visão ou "paixão anti modernista". As estratégias desta natureza, que, com frequência, se manifestam na sociedade, traduzem-se na afirmação da subjetividade, conciliada com o fortalecimento do princípio de mercado, e na retração da cidadania. A media digital funciona como um dos instrumentos mais agressivos de polarização social e isso ocorre nas suas mais diversas plataformas.
Habermas sublinha ainda a particularidade das lutas das minorias étnicas, culturais ou religiosas pelo seu reconhecimento. Trata-se de um assunto de natureza diferente de outros movimentos de reivindicação. Quando o que está em causa são identidades culturais – e as identidades religiosas são identidades culturais – os desafios são outros. Os movimentos que protagonizam essas lutas visam, também, “ultrapassar a divisão ilegítima da sociedade”, o que significa que o auto entendimento da cultura maioritária não pode permanecer intocável. Neste caso, para os membros da cultura secular, hoje maioritária, rever a interpretação da ação e dos interesses dos outros (minoritários) não altera necessariamente o papel de quem é dominante.
Neste novo milénio, constatamos a coexistência de indivíduos assumidamente descrentes ao lado de outros com uma religiosidade intensa; ou de indivíduos com uma identidade religiosa assumida e em extrema fidelidade à ortodoxia da crença e da ritualidade da prática, a par de outros que afirmam a mesma identidade, mas com uma vivência religiosa pautada pela heterodoxia doutrinária e distanciamento institucional; ou ainda seguidores das diferentes correntes alicerçadas no self secular ou no New Age, cujo traço comum é um profundo sincretismo e, em sentido contrário, os sujeitos que aderem às ortodoxias do cristianismo – nas suas vertentes católica, protestante ou ortodoxa – do judaísmo, do islamismo, das religiões orientais. A explicação do campo religioso na modernidade terá de jogar necessariamente com conceitos como pluralismo e individualização. Quer isto dizer que sociedades democráticas, que constitucionalmente salvaguardam a igualdade das várias opções religiosas, podem ocultar modalidades de poder simbólico detidas pelos grupos munidos de mais recursos. Por esta razão, parece-nos mais correto conceber o pluralismo na qualidade de ideal-tipo segundo os parâmetros da interação comunicativa de Berger & Luckmann e da ética comunicativa de Habermas, ambas preconizando espaços de participação social muito mais abrangentes.
Neste sentido, apelamos ao envio de propostas de comunicações que abordem tópicos como:
Deste modo, convidamos todos os sociólogos/as, investigadores/as e profissionais correlacionados/as, ao envio de propostas de resumo de investigações situadas em contexto académico e não académico como resposta à nossa Call.
Serão aceites, além de comunicações, posters e documentos visuais como curtas-metragens ou pequenos filmes centrados em projetos ou intervenções. Estas propostas, não obstante as diferenças entre contexto académico e contexto não académico, devem ser formuladas segundo as normas dos requisitos científicos teórico-metodológicos.
A ST poderá depois selecionar a(s) melhor(es) comunicações para serem propostas para publicação na revista SOCIOLOGIA ON LINE.
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